LEVEZA
A brisa é leve nos primeiros
raios de sol, dia novo
palhaço colorido no picadeiro
chuva fina a fazer cortina no céu
Pés descalços nos riachos da minha
infância
garças a brincar com as folhas
orvalhadas
com a brisa a bater no rosto
Silêncio na oração a louvar
a flor do jardim
preces das pétalas de rosas
em aroma suave das manhãs
a trazer o esquecimento das horas
Água no rosto da labuta
no sertão, clarão da lua
ruas de pedras portuguesas
história de avô
cabeça no colo da mãe
risos ainda sem som
As vozes que cantam hinos
Os livros de cabeceira
O frio ao pé da lareira
Os risíveis amores de Kundera
A poesia de Neruda
Os palhaços de Fellini
Os girassóis de van Gogh
O vinho servido nas bodas
A regência na chama das velas
Há leveza no amor sem paixão
no frio de casaco fino
na alegria do olhar infantil
no brinquedo
no dedo na natureza do Criador
Paz é leveza:
a alma flutua em seus galhos
a brincar com a luz e seus halos.