MEANDROS
Caminhar solitário sem destino
Beber o fel na taça da ilusão
Comer raspas sinceras do desatino
Jogar fora os restos da alusão.
Navegar nos oceanos do desgosto
Usufruir dos desejos a mentira
Amar as rugas que tempo pôs no rosto
Afogar as recordações que sentira.
Percorrer os labirintos da memória
Descrevendo cada parte visitada
Desaparecer nos meandros da história
Compreender a vontade amputada.
Sonhar com os medos do passado
Refletir sobre as ações do presente
Impedir que o amor fosse ultrapassado
Por esperar um futuro descontente.
Calcular a soma de todas as decepções
Dividir com o mundo as infinitas dores
Multiplicar as angústias dos corações
Subtrair os anseios dos incalculáveis amores.
Jogar a partida que os perdedores competem
Tomar banho na chuva que nunca termina
Errar novamente nas ações que repetem
Cheirar o odor que a sociedade determina.
Passear por vielas repletas de imundícies
Orar uma oração que nos conforta
Fingir-se de sábio nos ensinamentos difíceis
Esconder-se na sombra projeta pela porta.
Nadar numa raia em sentido contrário
Conceber o único momento fugaz
Ser réu e juiz de um erro arbitrário
Sonhar sempre com a desejada paz.