SEM COMEÇO SEM FIM
SEM COMEÇO SEM FIM
Porão da casa grande,
econderijo de minhas travessura mil.
A Mércia encantada com tudo.
Com o licor roubado,
com os "biscos" amoitado,
eu roubando o seu biscoito,
com as galinhas botando,
com os galos ciscando,
com os gatos atiçando,
com os ratos correndo,
e nós cada vez mais atiçando-nos...
Como era bom ver o Pererê saindo da garrafa,
não sei se era ele ou era eu...
Mas que era, era...
Era tudo bom.
O licor de jabuticaba roubado,
com gosto de borbom,
O beijo roubado com gosto de batom.
A Mércia bebada,
com cor e gosto de bombom,
o Saci com gosto de não sei o que,
se fôr so pode ser de Pererê...
...A menina morena gostava de ver o Pererê,
fazendo aquela molecagem.
Ela via e vinha fazer aquilo comigo.
Como o neguinho nos ensinava coisa boa,
coisa que só se ensina para os amigos,
coisa muito p'ra lá de coisa atoa...
O vovô João Caldas chegava sorrateiro,
esparramando a molecada pelo terreiro.
Queria saber que havia comido o ovo da galinha,
ou que havia comido a galinha...
Ou a menina minha...
Não descobria nada,
sebo na canela.
Lá na cozinha
O Chico guardava a lenha,
outra pessoa ariava as panelas,
outra tirava o carvão queimado do forno de barro,
outra torrava,
outro moia o café.
O Saci dentro da garrafa,
levava um esbarro,
alguém enchia o jarro...
...E assim a gente enganava o velho,
Que logo após morrendo de sede,
nos pedia um copo d'água deitado na rede...
Vamos logo turma
terminar com isso aqui,
banhar lá no riacho,
correr pelos pastos imensos,
vamos viver,
como se a vida acabasse amanhã,
chupar picolé de côco queimado, de murici,
vamos correr,
como ninguém quisesse mais voltar,
vamos brincar...
( Vamos brincar
de amor)...
Nunca mais vai haver infância assim,
nunca mais,
sem começo, sem fim...
Goiânia, 16 de abril de 2001
MINHAS TRAVESSURA
Goiania, 23 de janeiro de 2011.