Paz na alma
Paz na Alma
Guida Linhares
Nos Santos Mistérios aplaca-se o furor,
por seus cânticos que chegam à alma,
cansada, dorida, desfalecida pela dor,
no conforto do refrigério que acalma.
Pelos mares da misericórdia banhado,
o coração antes só tristeza e pranto,
bate uníssono à calmaria, revigorado,
após a tempestade cruel e fustigante.
Nas pontes de luz, baixada a tormenta,
permeiam-se os anseios desvelados,
antes obscuros pela sombra cinzenta,
daqueles que sentiram-se ultrajados.
Vaga agora a alma em busca da paz,
aquela que eleva o coração a Deus,
permitindo-se à criatura um manto capaz
de abrigar renovados pensamentos seus.
E assim caminhando pela eterna jornada,
busca-se a alquímica fonte da solicitude,
aquela que resiste ao canto da Passárgada *
fazendo reviver a alma, em toda a sua plenitude.
Santos, SP-11/10/06
* Pasárgada. Durante séculos, figurou nos mapas, nas crônicas e nos feitos. Ninguém, contudo, que lhe espremesse a sonoridade (alegre, com tantos aa) e as ocultas promessas. Bandeira sim. E por causa de um instante individual de fuga, nossa ainda pobre (especialmente de símbolos) literatura ganha um xangri-lá, um nirvana em que, paradoxalmente, a mobilidade é um prioritário objetivo a se alcançar.