À beira-mar

Chove. É copiosa a chuva.

Pelo vão do portão

de madeira enegrecido

pelo acúmulo de água,

vejo as pedras hexágonas

da rua refletirem a

luz amarela do poste.

Dou atenção ao sibilo impetuoso

do vento litorâneo. Folhas de

bananeiras, reduzidas a filamentos,

gemem inquietas, sacudidas

pelo vento no quintal

arborizado. Relâmpagos

acendem por segundos

o céu cinzento e

intimista.

Da janela entreaberta vejo

a madrugada avançar para o

negrume da noite. Aprofundo

mais o sentimento. Introverto.

Enxergo o que sinto. Nuvens se

rasgam um pouco e fulgura

outro relâmpago:

preciso apenas do necessário

para viver. É o necessário

que dá prazer!

Aqui colhemos prazeres

naturais e necessários: comer,

beber, descansar, proteger-se,

amigos, ar puro, vida.

Nossa alegria aqui é

intensa porque é simples,

feita de elementos

arquetípicos,

eternos.

"As viagens são os viajantes" disse

o poeta luso."O prazer é exatamente

do tamanho do homem" disse o

filósofo oriental.

Acertaram. Merleau-Ponty também:

"A verdadeira filosofia é reaprender

a ver o mundo"

Odacardo
Enviado por Odacardo em 12/08/2010
Reeditado em 18/09/2010
Código do texto: T2433227
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