Se um dia eu vier a morrer

Se um dia eu vier a morrer

Plantem-me à sombra de um jambeiro qualquer

Não doem meus órgãos, não!

Que estes a outrem de nada hão de servir

[Meu coração, egoísta, furtar-se-ia a pulsar

E meus rins se liquefariam

Num último crime meu

Um crime aprazivelmente perverso

E covardemente impunível]

Se um dia eu vier a morrer

Façam-me ser quem não fui

Dêem um pouco de mimo

A esta minha alma vaidosa

Mas não me acendam velas

Não me tragam flores

Deixem que a terra fria

Abrace meu corpo, simplesmente

Num derradeiro

E contínuo

E funesto

Orgasmo

Depois me deixem sumir

Como uma flor rio a baixo.