Um Tempo Sem Lugar
A face plana.
As fases lunares.
Entre versos e cantos.
Lenta luz solitária
em meio a veloz escuridão.
Forma vazia de um espírito.
Uma pedra, uma alma.
Uma arma flamejante,
o calor do corpo.
Os músculos anestesiados.
O sangue desbrava as veias.
Finas nuvens sobre o luar.
Névoa sobre os olhos.
Desejo de ventos e tempestade.
Que surja algo de novo.
Imaginam-se nuvens pesadas chegando
Passos rápidos ecoam pela rua.
O coração em disparada.
Os pulmões querem sufocar a garganta.
Risca o céu uma lâmina prateada e torta.
As nuvens se desmancham
em lágrimas de ilusão.
A cidade enclausura
o vento nos corredores das ruas.
A noite se aprofunda em madrugada.
Novos corpos, novas faces.
Ideias transformam-se em confissões bêbadas.
A ansiedade transforma sonhos em pesadelos.
Nasce um destino diferente a cada dia vivido.
Braços abertos podem estar esperando...
Pode haver ninguém a esperar.
A solidão do abandono das horas.
O desejo de esperar.
Não se sabe
se está acordado ou dormindo.
Sabe-se lá se existe esse lugar...
Se existiu este minuto...
Na certeza da dúvida.
12/02/1986