purgando alma
Quero calma
Para matar os ressentimentos
Purgando em mim
Ódios e crueldades
Quero calma
De monastério
Para achar o fio da meada
Para achar o começo do ninho
O começo do fim
O fundo do abismo
Quero centrar a gravidade
Quero abortar esse estômago frágil
Quero beber todas as águas encantadas
E diluir as sereias em seus cantos
E nos timbres mágicos
Conseguir semitons
Inimagináveis...
Quero calma em sustenido
Quero a clave de sol poente
Quero a clave de dó sem dó
Impiedosa
Seca, cega e torta
Torneando o intangível
Quero calma,
Quero purgar os pecados
Em lágrimas, suores e medos.
Quero calma
Do silêncio concreto erguido
No cimento armado da casa
Quero varrer os outonos empilhados
Quero abreviar as estações mortas
E ressucitar a vida depois da esquina,
Depois dos desenganos,
Depois da rejeição.
Quero calma
Para digerir o revés
Para regredir o convés
Quero calma
no escafrandro
Das nuvens
Compactas e secretas
Quero o machado sangrando
a madeira
do sândalo
E gritando secretamente
socorro.