O Dia do Especial
Num domingo ensolarado,
À beira-mar,
Até o ar tem preguiça,
O vento se torna uma cobiça,
A alma se estica...
A mente espreguiça...
O tempo passa mais devagar,
Como que hipnotizado pelo mar.
A maré alta, porém calma,
Estende com delicadeza sua palma,
Molhando a barra da saia da areia
Que, habituada aos caprichos marítimos, espreita
Aquecida pelo sol, com sintomas de inverno.
Desperta apenas, os instintos mais ternos,
Aqueles serenos,
Tendendo a amenos.
Os pensamentos são carregados pela brisa,
Que toca a pele e os sentidos alisa.
As máscaras caem diante de tanta espontaneidade.
O oxigênio abundante incita à sinceridade.
Num domingo ensolarado,
Perto do mar,
Tudo muda.
Afastam-se as agruras,
A tristeza se aborrece,
Cansa-se e desaparece...
A natureza se revela como um templo,
Dispensa o humano argumento.
Convida o homem a se sentir inserido
Em algo, muito distante do conhecido.
Um inexplicável colorido,
Que o quer enternecido...
Libertado do próprio umbigo,
A salvo de todo e qualquer perigo,
Numa espécie de confraternização natural,
Plural!
A união de todas as diferenças,
A anulação de todas as crenças,
Em função de algo Essencial,
Universal!
Num domingo ensolarado.
Sentindo o mar,
Navegar-se sem embarcação,
É escapar-se pelo alçapão:
Corajosamente,
Impunemente.
Amparado pela imensurável beleza,
Concentrado na inacreditável leveza,
Que brota por todos os poros
Do solo...
Numa infinidade de “gêiseres caiçaras”,
Em meio aos olhares salientes das araras.
Sem peso.
Esquecido pelo medo,
Provando o sabor
Do imortal ardor.
Sentindo-se pertencente ao primeiro fomento,
Descendente do primogênito intento.
Uma incomum sensibilidade,
Oriunda da fecunda tranquilidade.