Entre Céu e Mar

Vá, nau passageira,a deslizar
pelo imenso oceano.
Vá a desafiar os mares tormentosos
da existência.
Vá a buscar o precioso tesouro
oculto no horizonte.
Deslize suave pelas lágrimas geradas
nas dores do mundo.
Guarde em seu pesado corpo
a leveza de sua alma liberta.
Vá, ser de madeira
que um dia acreditou
ser efetivamente livre,
transformando as tábuas de seu corpo
em suaves plumas,
modificando as suas grandes velas
em potentes asas.
Recria, deste modo, o seu corpo,
renascendo em vida,
reduzindo-se a um leve ser alado
e erguendo-se em voo.
Não mais flutuando sobre as águas,
mas num voo celeste,
subindo na busca de seu ninho celestial.
E não mais o oceano,
mas o universo pontilhado de estrelas.
Não mais os sonhos apaixonados,
mas o intenso amor eterno,
o sentimento afetivo que há de lhe integrar
a todo o universo.
E então, de seu corpo de ave
há de brotar outro, ainda mais leve.
A sua alma de destino cigano,
a gênese da sua existência.
A fagulha de luz
que nasceu da grande luz criadora.
O filho pródigo que retorna
ansioso ao Pai eterno.
Divaga por trilhas
que só a liberdade amadurecida conhece.
Tenha a visão do cosmo e reconheça as letras da poesia celestial.
Aguce os seus sentidos da alma
e ouça a sinfonia divina, sinta o aroma sagrado
das flores etéreas que povoam o infinito.
E neste instante saberá
da efemeridade dos dias e das noites.
E seu olhar há de pousar
sobre o afetivo olhar daquele que tudo vê.
E seu coração há de se encher
de pureza e seu pensamento de serenidade.
Verá que a harmonia
é real e não mero conceito
da utopia humana.
Verá que a paz não é luxo
civilizatório,
mas objetivo evolutivo das almas.
Saberá que o existir
se sobrepõe ao sobreviver.
E, por estar desperto,
verá que sua inteligência
sublima-se em sabedoria.
Não mais chorará as dores da brevidade,
pois será consolado pela eternidade.
E por sentir sua eternidade
há de ver brotar as sementes
da árvore da vida.
E não terá tempo ou espaço definido,
pois há de estar mergulhado no todo.
E por pequena fraqueza
ainda há de supor tudo isso
ser apenas um sonho,
mas sua consciência
já terá olhos de ver
e lhe dirá que é pura realidade.
E assim a realidade perderá seu lado finito,
abandonará as suas limitações.
Reconhecer, neste ínfimo instante,
que nem todo o tempo, nem tempo algum,
apenas o desejo de uma nau
que queria ser pássaro.
Da vontade de uma ave
que um dia quis ser apenas alma.
E que, por tanto querer,
quem sabe um dia será...
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 04/05/2009
Reeditado em 06/05/2009
Código do texto: T1575874
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