Entre a Filosofia e a Poesia
Um botão de flor
que desabrocha
num belo jardim etéreo.
E no seu aflorar o convite
para que outros botões
também o façam.
E nisto haverá
um romper de cores
e nova beleza
pelos canteiros.
Existe um coração
liberto de ego
e que se integra
ao sentir do todo.
O cérebro está pleno,
a mente levita
em planos do espírito.
Desenvolve-se um sonho,
imagina-se no cume
de uma montanha.
Irmana-se ser
com o movimento suave
e harmonioso das nuvens.
Transforma-se todo
em um amplo olhar,
viaja pelo horizonte sem fim.
Serenam as dores,
cicatrizam-se os grandes
abismos da alma.
Brincam na face um riso tímido
e uma lágrima
que se insiste oculta.
As palavras do silêncio
têm a ação do verbo,
são fontes criadoras.
Formam-se as letras
e logo já se desenham
as vivas imagens.
Pelos neurônios caminha
uma sensação
de serenidade e espera.
Primavera que esposa o outono,
deixando de lado o jovem verão.
Dias que vão perdidos,
que vão esquecidos
por acidental indiferença.
Um rápido ir e vir
onde repousa a esperança
alimentada pela fé.
Num pequeno instante
toda a expectativa
de tudo poder mudar.
Um encontro
entre a ativa impulsividade
e a passiva observação.
Proximidade do cotidiano,
um portal que conduz
à intimidade da alma.
Desvenda a razão
a intuição que busca
inteirar-se da eternidade.
Sentimentos lunares
iluminados
por pensamentos solares.
Amam-se e fecundam-se
a maternidade e a paternidade.
A lua cheia e prateada,
a bola solar pacificada
dos dias de outono.
As emoções com ternura feminil
seduzem a virilidade
inflexível da razão.
É assim que se vê,
ora como servo da posse,
ora como filho da liberdade,
ficando dividido
entre o calor ardente da paixão
e a suave chama do amor.
E neste dividir
encontrar a semente da filosofia
que brota como flor de poesia.
Desvendando que a vida
está acima da sobrevivência,
o eu acima do ego.
Rindo-se feliz
da sua minúscula individualidade
ante o imenso universo.
Sentindo construir uma ponte
entre a provável origem
e o fim almejado.
Integrando-se ao tempo
que caminha além
da medida dos calendários.
Aprendendo a diferenciar
a angústia humana
da melancolia do espírito.
Pressentindo o momento
do grande nascimento,
do impulso original da vida.
Ficando cheio
de santificada euforia,
desafiando a gravidade
com seu voo.
Vendo-se como astro errante
a vagar nas dúvidas
que levam às respostas,
Brilho solitário
que viaja vestido de cometa
em meio às galáxias.
Confundindo as horas milicianas
marcadas pelo pulsar do quartzo.
Brincando de esconder
em ocultas frestas do tempo
por ele encontradas.
Fazendo-se marota criança
que ri-se toda por estar
a descobrir o mundo.