RAIO DE LUZ

Hoje faço o reencontro

com a caneta, com o papel;

sinto um certo desaponto,

talvez pelo silêncio de longo tempo.

Mas aqui estou flutuando,

pendido neste interior desconhecido,

na efêmera luz de ser poeta,

no egoísmo quase normal,

de transcrever de si mesmo para si mesmo,

páginas, folhas soltas de pequenos pedaços,

trechos, alguns traços

desta existência etérea.

Ah, páginas brancas amigas,

companheiras de saudade,

hoje aqui me ponho, buscando afeto,

gravando minhas nênias em seu interior.

Sei que mancho sua brancura,

as vezes com revoltas.

Mas sei também que fui esperado,

chamado com doçura.

E hoje neste reencontro,

coloco-me aos seus pés,

desligado da vida, das maldades,

transcrevendo já sem desaponto,

nossas imensas saudades

das horas que não foram tão incertas,

e ainda buscando um pequeno

raio de luz, de ser poeta.