"Resposta ao mote de 12/01/2009"


Paz em conflito

Sob um céu azul pintado de cinza,
confundem-se numa massa disforme homens
e máquinas.
Olhares perdidos, uma frieza latente
e um distanciamento milimetricamente calculado.
O mínimo espaço que separa os seres confusos
das multidões espremidas nas ruas da grandes
cidades é a medida exata da solidão
do homem moderno, a saber:
Um ego e meio de distância.

A luz difusa do sol, filtrada por nuvens
espessas de fumaça tóxica
não aquece nem ilumina.
Substituiu-se o calor humano pela calefação
o frescor revigorante dos momentos passados
com grandes amigos, pelo ar-condicionado;
e em lugar da alegria de se desfrutar longos
anos de vida há o medo pungente da morte prematura.
Na correria diária, de problemas
a resolver, contas a pagar, horários a cumprir,
cada segundo vale ouro.
O tempo é um parco tesouro para a
humanidade sem paz.

A paz fugiu da cidade, refugiou-se no campo,
no silêncio de pastos verdejantes
no cheiro de terra molhada depois de
uma chuva primaveril, no relaxante som
de pássaros que cantam nos galhos
das árvores, despreocupados.
Fuga inútil e sem efeito.

Os homens do campo em busca de paz,
não a paz que se encontra no silêncio,
nos cheiros, nos suaves sons do campo,
não a paz que se deriva simplesmente
da luz do sol que inda pode ser vista,
sentida sob um céu limpo e claro;
mas a paz da tranquilidade financeira
dos bens que não se compram com
os produtos colhidos da terra
da certeza de que haverá sempre
comida na mesa, refugiaram-se na cidade.