Na casa das mulheres (antes que o tempo acabe)

Eu acordo cedo

e perco muito tempo.

Horas, minutos, segundos

escorrem por meus dedos, o relógio é limitado.

Não que a vida seja uma perda,

ainda não sei admirar

a interminável beleza

de um diário pôr-do-sol.

São muitas as belezas inexplicáveis,

que estavam aqui quando eu cheguei

e estarão aqui quando eu partir,

mas existe algo que mais me comove,

existe ainda a perfeição integral

de ver minha mãe dormindo,

tranqüila, criança,

quando eu vou para a aula, cedinho.

Minha irmã voltando a ter sonhos,

a se recuperar de todos os tombos

sem desanimar,

com esperança no futuro.

Se eu ainda reclamo das coisas

é só porque quero melhorar,

acordar para a vida,

fazer o mundo girar.

E, como se a única coisa

que diferenciasse o estar morto

do estar dormindo

fosse o acordar,

acordo

para o verdadeiro sentido

de diariamente acordar

e deixar de morrer.

Na casa das mulheres

tenho mãe,

tenho irmã,

mas ainda falta.