"Um Corpo que Cai..."
Berenice Heringer
Um elevador que sobe somente
As mentes que só mentem...
A semente inocente aremessada ao solo
Frígido, em alta velocidade
Numa voraz/cidade...
Azáfama e correrias em preâmbulos sinistros
Mãos destras e canhestras entrelaçam fios sórdidos
E apertam-se os nós górdios em delicadas vértebras...
Facas serrilham. E tesouras picotam telas flácidas
E fervilham os ímpetos, compulsões e obsessões
Enquando nas ad-renais os sucos circulam...
E há sibilinos sussurros e sincronizações
Na cena tétrica, macabra, sinistra...
A noite escancara as mandíbulas
E as sombras acolchoam o berço
Berço frígido, úmido, empalmeirado de verde...
Olhinhos em close registram a cena muda.
Na verticalidade, mergulha-se no vácuo
Em dois segundos, as ondas se fecham...
Aquele "pára pai"! patético
Não ecoa nas mentes obnubiladas
E o grito se perde no ar rarefeito
Mas perdura no Cosmo, perenemente...
E rompe-se a barreira do são
O silêncio é denso e definitivo
No hexa epicentro empilham-se as pedras...
Na recomposição, no set do filme
O rastro sinistro teima em ficar
As vestimentas são centrifugadas...
Há quatro dias de espera e rearranja-se o cenário
E reensaiam-se as falas, redecoram-se papéis
E ajustam-se as más-caras e as personas
E delineiam-se no papel
De florezinhas e coraçõezinhos
O release da farsa, dos falsetes e macetes.
Os fracos se esmeram na crueldade
Os jasões sucumbem às medeias
Sedutoras, indutoras, autoras
Mas antes se incumbem de lavar
As mãos manobristas, sinistras
Malabaristas, sibaritas...
No entanto, há dez marcas indeléveis
No frágil pescoço e depois
Em milhões de pastilhas verticais
Enquanto os ais
Silenciam-se...
Há vozes blasfemas
Em estratagemas e encenações...
Há um terço e novena de pseudo-avó
Santa Rita invocada num falso clamor
"Tudo vai dar certo! Confie no Senhor!"
Será esse Senhor
Servidor dos ímpios?
Por que não sustém
Tais mãos assassinas?
Por que não desce sua Magna Mão
Misericordiosa num Instante preciso
Sobre um corpinho inerte
Sofrente, agonizante, desvalido
E o resgata da cena hedionda?
Homenagem à pequena Isabella Nardoni
Vila Velha, 10 de abril de 2008.