BRAVO NORDESTINO
Abre, pasmado, a boca
dela palavra não sai,
cabeça não pode pensar,
não deixam a fome e a sede.
Cacimba seca, só terra,
no quintal ele enterra
mais um boi esquelético
de fantasmagórica boiada.
A roça é do inferno a filial,
torrada pelo fogo do sol
lá no alto impedindo
que o céu derrame lágrimas.
Triste ele junta a família,
parte para outras plagas
onde não existem as pragas
da fome, doença e morte.
Caminhando vai o cortejo
pelas estradas ressequidas,
verdadeiros zumbis da realidade
de um país que é tão rico.
Bico curvo voa no ar
agourento carcará esfaimado
esperando que caia morto
o bravo nordestino,
mas o espírito é forte
não acredita em sorte,
luta com unhas e dentes
para vencer onde chegou.
Tem alma de menestrel
a poesia corre em sua veia,
ninguém lhe põe peia
quando canta o amor e a vida.
Bando de aves migratórias
espalhando-se pelas regiões
deixando na sociedade
o seu selo, a sua marca,
de brasileiro de valor
que guarda no peito com amor
a lembrança da terra distante,
o chão que o viu nascer.
02/04/05.