Da insignificância de minha vida
“É tão belo como um sim / numa sala negativa.
... Belo por que é uma porta / abrindo-se em mais saídas...”.
(João Cabral de Melo Neto)
Desejo ser um poeta como Pablo Neruda
Quero sentir a humanidade de Álvares de Azevedo
Escrever com sangue tal como Clarice Lispector
Delicadamente como Cecília Meireles e Ferreira Gullar
Sensivelmente como Cora Coralina
Amar como Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes
Se entregar como Camilo Castelo Branco
Sofrer na alma como Augusto dos Anjos
Falar como Gregório de Matos
Instigar como Adélia Prado
Ver como Fernando Pessoa e Mário Quintana
Atingir o estômago como faz Florbela Espanca
Sujar as mãos como Bertold Brecht
Limpar a alma como Dostoievski, Sartre ou Camus
Morrer como Murilo Mendes
Viver como Chico Buarque
Descrever como Euclides da Cunha
Enlouquecer como Lima Barreto
Elucidar como Machado de Assis
Tornar-me íntegro como Gilberto Freyre e Florestan Fernandes
Otimista como Adriano Suassuna e Darcy Ribeiro
Ser incansável como João Guimarães Rosa e Graciliano Ramos
Realista como Castro Alves e João Cabral de Melo Neto
Tocar como Tom Jobim
Cantar como Elis Regina...
Diante de tanta divindade... é belo ser insignificante.