Cléo

De versos lassos

Padece meu silêncio

Desalento ávido

Cáustico momento

E eu, caído em pena vã

Iço-me, deflagrando sentimento

Arrostar-me a mim mesmo tu fez

Resvalaste o manto indolente

Instilaste o menino demente

Criaste, do tinto, o poeta da desfaçatez.

Poeta de versos chulos e pobres

Mas, favor não me esnobe

Pois meu verso é feito de sangue

É granítico de natureza

É coisa que diz quem ama

É algo até de beleza

É sujo, mas venial

É poesia toada de embriaguez

São versos, ternos, de polidez

Agradeço a tua mesura

E enveredo o meu trilhar

De timoneiro vieste a Musa

E eu, agora, a te amar

Amor não de cortejo

Tal Eurídice e Orfeu

Amor solícito

Exulto de menestrel

Que faz bater o peito meu

Nas graças de uma beleza infiel

Que, menina, dos poemas rouba a ternura

E acrescenta-lhe a seu véu

Declamo sincero meu prezar

E prova não há quem emende

Daquele que vier a duvidar

Que essas coisas de amor ninguém entende

E que eu não sou poeta

Dionísio niilista
Enviado por Dionísio niilista em 27/02/2008
Código do texto: T878201