Cléo
De versos lassos
Padece meu silêncio
Desalento ávido
Cáustico momento
E eu, caído em pena vã
Iço-me, deflagrando sentimento
Arrostar-me a mim mesmo tu fez
Resvalaste o manto indolente
Instilaste o menino demente
Criaste, do tinto, o poeta da desfaçatez.
Poeta de versos chulos e pobres
Mas, favor não me esnobe
Pois meu verso é feito de sangue
É granítico de natureza
É coisa que diz quem ama
É algo até de beleza
É sujo, mas venial
É poesia toada de embriaguez
São versos, ternos, de polidez
Agradeço a tua mesura
E enveredo o meu trilhar
De timoneiro vieste a Musa
E eu, agora, a te amar
Amor não de cortejo
Tal Eurídice e Orfeu
Amor solícito
Exulto de menestrel
Que faz bater o peito meu
Nas graças de uma beleza infiel
Que, menina, dos poemas rouba a ternura
E acrescenta-lhe a seu véu
Declamo sincero meu prezar
E prova não há quem emende
Daquele que vier a duvidar
Que essas coisas de amor ninguém entende
E que eu não sou poeta