PALAVRAS BELAS
Palavras belas
escritas nos umbrais das janelas,
ou nas frias telas
do improviso nada!
insólito aviso:
“eu preciso, eu preciso, eu preciso...”
note leitor inteligente
a primeira pessoa do singular sempre à frente,
ou então
a chatice do possesso
do possessivo!
Que se repete num mero:
“Te quero, te quero, te quero...”
Taxativo, nada reflexivo,
poeteiros de plantão ou seria de portão?
Faz do verso um picadeiro
miscelânea cênica , veículo
do ato profano,
ao dizer bem liso, ligeiro:
“Te amo, te amo, amo...”
Pára! Ridículo!
Palavras belas!
Todas pra elas:
Maria, Lia, Helena,
Alice, Clarice, Tereza,
alguém mais? sim muito mais!
Tem realeza esse versejar?
Pra dizer de amor
não é preciso replica, nem tréplica,
nem diz-que-me-diz, nem lona, nem confete,
muito menos covardia, ironia, anonimato!
Nem doce com recheio ou coisa assim,
nenhum aparato,
vá ao ouvido dela (e) e diga o que quer de fato,
só não cometa o desacato,
o desaforo,
de desejar namoro
com alguém comprometido;
Leu a regra? Entendeu Mané Tadeu!
Palavras belas
soltas ao vento, indo, vindo,
circulando, pedindo,
declarando na etereidade do ar:
“Amor sem você não sei viver..”
Ora! Cresça, apareça!
Dá vontade de gritar, esgoelar:
Cale-se insigne muar!
Somente saí do meu enleio,
porque to é de saco cheio!
ANDRADE JORGE
REPUBLICAÇÃO