ÀS CINCO DA TARDE

                


                 " Se ven desde las barandas,
                   por el monte, monte, monte,
                   mulos y sombras de mulos
                   cargados de girasoles."

                              - Federico García Lorca



Que pena, poeta,
que às cinco da tarde
não mais havia girassóis
a iluminar teus olhos.

Marianita não pode lhe levar flores.
Trocou de bandeira para bordar
uma rosa eterna, a tua...
agora sempre a sangrar.

Mas Bernarda trocou o negro e vestiu-se de azul
para te encontrar no céu...

E Angústias mudou seu nome para
Esperança...

Yerma não desistiu dos seus sonhos
porque enviaste um anjo para fecundá-la.

E os que se amam,
farão eternas bodas de luzes;
jamais de sangue, porque
o vermelho não valeu a pena,
nunca vale a pena,
a não ser no por de sol,
e nas rosas serenas.

Mas tu não estarás aqui, nunca mais,
às cinco da tarde.

Não verás também meu peito dilacerado
pelos cordeiros diariamente imolados,
pelos cães abandonados,
pelas costelas à mostra das crianças...
pelos anciãos sedados ...


Tu não verás... tu não verás....

E não há como dizer-te poeta:
talvez eu só tenha feito até hoje
poemas para trás
por medo de abrir os olhos
e enxergar...

Mas "assim que passem cinco anos"
eu preciso me dizer:
valeu a pena ousar amar.

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 13/02/2008
Reeditado em 12/01/2009
Código do texto: T858174
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