ÀS CINCO DA TARDE
" Se ven desde las barandas,
por el monte, monte, monte,
mulos y sombras de mulos
cargados de girasoles."
- Federico García Lorca
Que pena, poeta,
que às cinco da tarde
não mais havia girassóis
a iluminar teus olhos.
Marianita não pode lhe levar flores.
Trocou de bandeira para bordar
uma rosa eterna, a tua...
agora sempre a sangrar.
Mas Bernarda trocou o negro e vestiu-se de azul
para te encontrar no céu...
E Angústias mudou seu nome para
Esperança...
Yerma não desistiu dos seus sonhos
porque enviaste um anjo para fecundá-la.
E os que se amam,
farão eternas bodas de luzes;
jamais de sangue, porque
o vermelho não valeu a pena,
nunca vale a pena,
a não ser no por de sol,
e nas rosas serenas.
Mas tu não estarás aqui, nunca mais,
às cinco da tarde.
Não verás também meu peito dilacerado
pelos cordeiros diariamente imolados,
pelos cães abandonados,
pelas costelas à mostra das crianças...
pelos anciãos sedados ...
Tu não verás... tu não verás....
E não há como dizer-te poeta:
talvez eu só tenha feito até hoje
poemas para trás
por medo de abrir os olhos
e enxergar...
Mas "assim que passem cinco anos"
eu preciso me dizer:
valeu a pena ousar amar.