Ah, se ao menos...
Com gotículas de chuva
insistentes no telhado
acordei, e o travesseiro
tão vazio e frio ao lado...
Ah, se ao menos fosse hoje
belo dia ensolarado!
Água escorre como sempre
em um rosto amarrotado;
não conforta esse café
fraco, amargo e requentado.
Ah, se ao menos fosse hoje
belo dia ensolarado!
De automóveis e buzinas
o caminho abarrotado
traz meninos de olhos tristes
ao semáforo fechado.
Ah, se ao menos fosse hoje
belo dia ensolarado!
Esse ar úmido, inclemente,
me deixa o corpo encharcado,
e de uma alma estilhaçada
chega-me um sonho adiado.
Ah, se ao menos fosse hoje
belo dia ensolarado!
Fim da lida, finda a tarde
num crepúsculo nublado;
outra noite se anuncia
ao meu corpo fatigado.
Ah, se ao menos nessa hora
te pudesse ter ao lado...
______________________
Admiro aqueles que são capazes de escrever poesias formais, com métrica e rima perfeitas; nunca tive esta pretensão e não é um estilo que se adapta ao meu modo de escrever. Mas desde que aprendi o que eram redondilhas com o meu mestre Obed de Faria Jr., fiquei querendo escrever algo no formato. Assim, dedico-lhe este singelíssimo texto, agradecendo de coração por ter corrigido a métrica - mas principalmente por ter-me ensinado, entre gargalhadas por telefone, a poderosa técnica da batatinha...
Abaixo, o endereço para sua crônica "Que raio são 'redondilhas'?", que é uma verdadeira aula sobre elas:
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1297960
(Ops... desculpem por não poder copiar e colar! )