Nem Sempre Fui Assim

Na infância sem criança

Tiraram tudo de mim.

Nas cozinhas, uma lembrança

Das cirandas sem fim.

No caminho até a escola

Uma lição aprendi,

Rebeldia e maldade,

Pois o resto esqueci.

Os amigos dos vícios

Me faziam esquecer

Da barriga que roncava,

Do coração a doer.

Da inocência consumada

Ao próximo desconhecido,

Uma promessa maculada

Que havia surgido.

Sofrimento e miséria

Entre tantas aflições,

Uma vida de tormento

E de muitas traições.

No ventre, uma esperança

Resultando em frustração,

Mas eu nunca aprendia,

Errando em repetição.

Gerações eu formei,

De atitudes me arrependi,

Mas se voltasse o tempo

Não mudaria o que vivi.

Se listar tudo o que fiz

Durante a madrugada,

Engana-se quem diz:

Inocente ou culpada.

Nos meus cabelos brancos

A verdade é encontrada.

Do céu ao inferno,

A batalha foi travada.

Colhi os frutos,

Paguei o preço,

Só me custa entender

Se é o que mereço.

O tempo passou

E minha saúde levou,

Somente me restou

A companhia da dor.

Contudo, tenho sorte,

Aproveitei sem pudor,

Naveguei como poucos

Entre o ódio e o amor.

É por isso que afirmo

Que nem sempre fui assim.

Vivo os dias que me restam

Enquanto avisto o meu fim.

Daiana Lima

22/10/2022