Verso dos Trabalhadores

(inspirado pela obra de Eliane Brum)

No pulsar do dia que amanhece cinzento,

ergue-se o corpo, já moldado ao cimento.

São mãos que talham o tempo em suor,

um grito calado, que a cidade devora.

No chão áspero dos passos sem fim,

onde o sol e a lua confundem-se enfim,

há vidas que dançam no fio do corte,

tecendo histórias, desafiando a sorte.

Os olhos carregam o peso do mundo,

no silêncio profundo, um clamor fecundo.

De terra em terra, plantam o existir,

mas quem os vê? Quem ousa sentir?

Eliane sussurra, como quem escuta

a dor que se esconde sob a labuta.

Retrata o invisível, dá nome ao que cala,

revela o milagre onde o verbo estala.

E no verso, os trabalhadores vivem,

não como sombras que ao vento se perdem,

mas como raízes que rompem a pedra,

como quem insiste e a história enreda.

São eles os poetas do chão e do aço,

heróis sem capa, do suor no compasso.

E ao fim do dia, quando a noite abraça,

são também estrelas, que o céu ultrapassa.