Despedida de um escritor
Despedida de um escritor
Cardoso I.
Quando eu não puder falar
E tomado for pela cegueira,
Deixarei que a minha arte fale,
Que minhas mãos exalem
Toda a verdade escondida de dentro de mim.
Terei deixado um legado,
Dos dias e noites em claro,
Da boêmia agora eternalizada
Em um poema ,
Ou em um relato.
Quando me faltarem as forças,
Me renovarei ouvindo meus netos,
Lendo um dos meus versos,
Que escrevi Quando era feliz.
Quando esse dia chegar,
Apesar de doloroso,
Evitarei raiva ou choro,
Farei da dor , algo novo,
Uma nova maneira de prosear.
Tomarei banhos prolongados,
Dormirei num dia insolarado ou nublado,
Me admirárei em um espelho quebrado,
Enquanto outro de mim toma a vez.
Embora meu tempo tenha passado,
E a juventude ido como água no ralo,
Vivi o inimaginavel,
De viagem em viagem,
No imaginário incontável.
E só assim, terei meu último ato,
Ao ver que valeu a pena de fato,
Escrever para todos os públicos,
Que consomem imaginário puro,
Pelas mãos de um velho escritor.
Finalmente poderei retirar-me de cena,
Talvez aposentar-me em veneza,
Ou no Brasil , país realeza,
Serei imortalizado na Academia brasileira de letras.