KASULE

De tempos que me flagelo

Por não ter te apresentado Drummond.

Assim, de perto, com a força da dor de Itabira retratada na parede.

Há tempos que me vejo num labirinto caótico por não saber que passo devo dar para encontrar a saída. Ou a entrada, se estiver pensado em você.

Não tive filhos. Não os terei. Mas sempre os quis tanto que não há missão mais séria e difícil que essa dose paternal de condução.

Como apresentar poesia, como dizer que a poesia é alma das coisas e a coisa mais importante da vida.

Melhor, é a única coisa importante. Porque ela é a alma e o alimento da alma, ao mesmo tempo.

Porque ela é assim, inutilmente indispensável pra uma vida.

A vida é uma piada de mau gosto, já disseram.

A vida é um espaço tempo entre duas datas, disseram também.

A vida é o que é, sem saber porque existe. E só existe, se, de fato existir porque é a alma que a eterniza.

"Se for pra desfazer, por que que fez", não é mesmo?

É por isso.

É pela eternidade.

Poesia é o nome que deram pra calmamente sabermos que é muito mais do que isso.

Um pressentimento, um calorão, uma fome, uma revolta, uma desilusão diante do inexprimível. É o que nos rouba a fala, uma tosse, um soluço, uma involuntariedade do espírito.

Um caminho, um socorro, um escudo, um porto seguro.

Poesia é um colírio.

Poesia é um tratado, um pacto consigo mesmo, um contrato entre você e o teu sentimento.

Quem pensa duas vezes, nunca vai fazer uma poesia, nunca sequer será apresentado a ela.

É uma vontade. É a potência humana.

É a revolução.

É tudo que eu tentei escrever aqui e não cheguei nem perto de dize-lo.

Visite a casa dos poetas. Um a um.

Sente em suas mesas e beba com eles. Por você.

Faça isso por você.

Faça isso por nós.

Caia de vez na imensidão oceânica do verdadeiro eu.

Lance um olhar inteligente sobre si mesmo e renasça. Pra sempre. Sempre que quiser. Sempre que os visitar. Sempre que puder sentar na casa dos mortos eternos.

Os que jamais morrerão são aqueles que não são isso, são o que ousam tocar o divino perfeito e ineficaz monetariamente conceito da arte.

Já imaginou se o mundo que te deram não tivesse história? Nem passado? Nem castelos? Nem retratos? Nem pinturas?

Já imaginou se tivesse que fazer tudo isso, careta. Em silêncio. Sem música. Se não houvesse a música e se não houvesse a dança, pra poder construir a Capela Sistina?

Não é a pedra. É a poesia.

É que tudo é poesia, Anna.

É um colírio, lembra?

É uma vacina.

É a vontade de ver. A vontade de escutar.

É a ligação invisível.

É uma declaração de amor.

É o show da pedreira. O único.

Até porque nunca mais iremos na Pedreira novamente, juntos.

Porque se formos apenas uma vez. Aquela vez. É aquilo… aquele dia. Aquele vento. Aquele tempo. Aquele momento.

Aquele sentimento.

É a poesia que nos une e eu preciso gritar isso.

Porque é a única forma que achei de te apresentar poesia, foi poetizando aqui, pra você.

Eu te amo de boca cheia e só a poesia é capaz de dizer isso de um jeito que entre no seu coração.

Que encoraje teus dias.

Que te alente e que te proteja.

Que te sirva e que te espante.

Que faça você lutar por amor.

Que faça você perseguir a si mesmo.

Que te roube o sono.

Que te ganhe a vida.

Que vc se pegue sozinha na cama, deitada, lendo poesia, com o livro aberto deitado no colo e um leve sorriso se abra.

E que ninguém nunca veja e que ninguém nunca saiba.