Ei, pai!

 

Ei, pai, meu querido velho,
Não quis ficar só mais um pouquinho?
Para nos contar as histórias do seu tempo,
As peripécias do seu passado,
Mas, apressado, partiu, não foi?

 

Ela foi primeiro, e você, logo atrás,
Como se a pressa os unisse outra vez.
Imagino a mãe dizendo: "Calma, homem, dá-me um tempo."
Mas sua ausência, como um silêncio profundo,
Nos deixou todos tão tristes.

 

Aqui, recolhemos seus objetos,
Tudo aquilo que nunca tocamos.
Parte guardamos, parte doamos,
E a casa, vazia, já não é a mesma —
A casa dos nossos pais.

A saudade, pai, é uma dor imensa.

Quem também chora é sua sobrinha Marisa,
Que cuidou do senhor como uma filha,
Nos trazendo paz mesmo de longe,
Um verdadeiro anjo de bênçãos para nós.

 

Rimos para não chorar, curioso esse seu jeito de amar,
Entre o afeto e a implicância, entre o carinho e o humor.
Desconfiava até da própria sombra, lembra?
Quem está me seguindo? —

Só nos resta rir.

 

Guardo, pai, os melhores momentos.
Vaidoso como era, nunca usava bermuda,
Envergonhado da sua magreza.
Sempre arrumado, cabelo bem penteado,
E com o perfume e a roupa no seu estilo.

 

A sua casa, o seu refúgio,
Raramente saía, mas era o anfitrião perfeito.
Ouvimos até hoje o seu “Come mais, só mais um pouquinho”,
Um som eterno em nossos corações.

Você e a mãe sempre acolhiam quem precisava.

 

Com essa bondade que lhes era natural,

Lembra do homem que caiu na calçada?
Ninguém quis ajudar, mas o senhor o levou para sua casa.
Ele, tão agradecido, voltou com sua irmã para retribuir,
Descobrimos que ela, era a médica da nossa mãe.

Que mundo pequeno, não?

O senhor sempre nos apontou o bom caminho,
Mesmo que às vezes eu seguisse o meu.
Quantas vezes me livrou de encrencas?
O amor que sentimos pelo senhor é eterno.

 

Deus me deu a honra de ser seu filho,
E a vida, o privilégio de ter você como pai.
Descanse em paz, meu querido velho.
Guardo com carinho as memórias dos dias felizes,
Que ficarão para sempre em mim.

 

Por Walter Figueiredo  novembro/2024

 

Cópia da carta enviada pelo senhor que foi encontrado caído na rua pelo meu pai.