NORDESTINA BATALHADORA
Desabrochou, ingênua e resplandecente,
Foi a primogênita do seu lar.
Nasceu em berço de ouro, mas, menina.
O que fez ao pai, desagradar.
O genitor sonhava com um varão,
Ignorância popular.
Então, aquela pequena,
Ficou de lado, a chorar.
Desta forma, uma tristeza,
Dela veio a se apoderar.
E por injustiça fraterna,
No internato, a criança, foi morar.
Acordar cedo todo dia,
E o rosto com água gelada lavar.
Naquele banheiro cheio de meninas,
Não existia privacidade no lugar.
Depois do banho gelado,
E a farda colocar.
Elas iam todas para a capela,
E por Cristo, iam orar.
Ela pedia de joelhos, todo dia,
A Deus com muita emoção,
Que ele a tirasse dali,
E a levasse para casa, então.
Só depois, o café elas iam tomar.
Para em seguida, o dia todo, estudar.
Foram dias de muita tristeza,
Que na sua vida, se fizeram vigorar.
Em seus esplendorosos, sete anos,
A infância, lhe foi cortada sem temor.
E nas noites escuras e frias,
Na pequena cama, ela chorou.
Sem visitas, nem contatos de parente,
Ela ficou por dois anos no lugar.
Graças então, a uma manga quente,
Adoeceu, e para casa pode voltar.
Dos seus pais, não guardou ressentimentos,
E tentou a vida, da melhor forma levar.
Dedicada aos estudos, se fazia destacar.
E aos poucos, aquele mundo, ela pode retornar.
Ela tinha, predicados em vantagens.
Inteligente e gostava de se dedicar,
Para em um mundo de homens,
Ocupar um lugar que pudesse brilhar.
Sempre com nota condecorosa,
No colégio se fazia aplaudir.
Pois era doce e poderosa,
Já que conseguia em tudo eclodir.
Com muita ingenuidade no olhar.
Cheia de planos para concretizar.
Um grande amor, queria obter.
E um lar feliz, enfim, ter.
Gostava de pular o muro,
E ir com as primas passear.
Conhecer muitos garotos,
E em tertúlias, ir dançar.
Chegou a ficar noiva, imagina.
De um estudante de medicina.
Assim, poderia os pais agradar,
E finalmente, em casa, se destacar.
Mas, nos seus resplandecentes quinze anos,
Não conseguiu o coração controlar.
E por um jovem no carro vermelho,
Ela se deixou, por fim, deslumbrar.
Era namorado de sua prima,
Aconteceu, que rolou o clima.
Pois o amor, não dá para escolher.
Se sobrepondo a tudo, sem perceber.
Foi muito flerte, cinema e diversão.
Para os pais, uma decepção.
E ganhando um novo amor,
Terminou o antigo, sem rancor.
Porém, o seu âmago estava satisfeito,
Com o novo amor, que era pura emoção.
Um jovem divertido, que lhe dava atenção.
E que lhe abria um mundo de inspiração.
Romântica e apaixonada,
Sua alma gêmea encontrou.
E depois de algum tempo,
Com ele, em matrimônio, se juntou.
Como o dinheiro era pouco,
Tinha que a criatividade usar.
E no meio de mil ideias.
Alguma coisa lucrar.
Deu aula no telecurso,
Com televisão para ajudar.
E ainda teve o curso,
Para o Papai Noel moldar.
Nordestina com certeza,
Lutar é a sua maior presteza.
Pois, nunca se deixa derrotar,
Tentando sempre, a vida melhorar.
Com o marido,
Prestou vestibular.
E juntos, a faculdade
Vieram a cursar.
Na busca de algo melhor,
Para a vida dos filhos apor.
Um concurso resolveu prestar, então.
E por ele, lutou com convicção.
Foram noites em claro,
Estudando para o preparo.
E o caldo de caridade,
Ajudando na necessidade.
Neste meio tempo,
Vieram os filhos.
E foi difícil,
A vida adequar.
Logo rumo ao interior,
Ela precisou viajar.
E o ônibus cedo,
Tinha que pegar.
Por dias se ausentava,
Para poder trabalhar.
E longe da família,
Ela precisava ficar.
Fez tudo o que pode,
Para uma vida melhor,
Aos filhos proporcionar,
Sem se lamentar.
Na carreira cresceu ligeiro,
Era trabalhadora e aplicada.
Mulher de muitos predicados,
E também bastante dedicada.
Cozinhava com esmero,
Peixe a delícia, seu carro chefe.
Mas, uma boa paçoca com banana,
Também, era de se esperar.
Com os seus tantos talentos,
Teve uma vida profissional,
Que deixou muito orgulho,
Para os filhos guiar.
Com o tempo, veio a doença,
Que o seu amado afetou,
Mas, ela sempre empenhada,
Tratou dele com amor e dedicação.
Mulher de forças infinitas,
Que nem dá para contabilizar.
Pois acorda todos os dias,
Para o mundo duro enfrentar.