Decreto para mim mesmo
Decreto agora serei feliz
Vou sempre sorrir
Não vou mais me preocupar com dinheiro
Não sentirei mais dores
Não estarei mais em lugares onde não me queiram
Não me importarei mais se não me compreendam
Não vou chorar pelo vento gelado na face
Não vou mais separar, com vírgula, verbo de ligação de predicado
(para a alegria dos professores de português)
Não chorarei mais o leite derramado, só limparei o fogão
Não pensarei mais na morte da bezerra, cuidarei da vaca órfã de filha
Não vou mais me justificar para quem pensa mal de mim
Continuarei comendo banana, chupando melancia, comendo abacate e abacaxi
Irei sempre ao teatro, vou mais a espetáculos e ouvirei mais na internet
Mônica Salmaso, Paula Lima, Vanessa da Mata, Maria Rita, Maria Betânia,
Gal Costa, Alaíde Costa, Móveis Coloniais de Acaju,
Zizi Possi, ah! e as Virginias! Rodrigues e Rosa
Devo ir mais ao parque da Água Branca, ao Parque Augusta e ao Parque Buenos Aires
Devo voltar a comer sushi, galinha caipira, acarajé, xinxim de galinha
Vou continuar a escrever poesias
Estudar sobre os negros e os indígenas, ler história e histórias, geografias, biografias
Ver filmes e, importante demais, ouvir Miriam Makeba, Cesaria Évora.
Porém, não vou à feira hoje comprar frutas.
Está muito frio e há mangas, mamão, laranjas, kiwi e banana em casa.
Rodison Roberto Santos
São Paulo, 18 de setembro de 2022