Diálogo com a poesia “Motivo” de Cecília Meireles
Não sei cantar, Cecília, mas sinto também que o instante existe
Tristemente, poeta, minha vida não se completou,
Foram tantas coisas pelas quais lutei e não me vieram
Ficaram tantas coisas pelo caminho, foram tantos esforços em vão
Não me foi dado o prazer de ser alegre, porém, não posso ser triste
Tenho que pesar meu coração e tristeza não faz bem para ele
Sou poeta como você foi
Só não sei se foi uma escolha de alguém que não teve outra no caminho.
Uma pena, pois ser poeta é escolha das musas
E isso sim, eu sei, elas me dominam atualmente
Sim, Cecília, sou seu irmão das coisas fugidias
No entanto, sinto gozo e sinto tormento
O prazer e o sofrimento fazem parte de minha vida
Gosto do vento refrescante na face
Entretanto, não gosto do vento de tempestade e de redemoinho
E gosto de atravessar noites e dias tranquilos
Cecília, sou mesmo assim, desmorono e edifico
Nos parecemos nisso, permaneço e me desfaço
Pois eu sei, eu sei. Fico
E passo, os dois, poeta.
Embora tenha dito não saiba cantar, Cecília, sozinho eu canto, sem ninguém ouvir.
Você tem razão, a canção é mesmo tudo e era assim para minha mãe também
A asa ritmada porta essa eternidade no líquido vital
Poxa, senhora amiga, precisava lembrar de igual forma um dia estarei mudo?
Mais nada?
Você não emudeceu, Cecília.
Acabou de me falar agora
E ouvi suas canções, viu?
Pois a canção não é tudo?
Rodison Roberto Santos
São Paulo, 07 de outubro de 2023