Diálogo com a poesia “Motivo” de Cecília Meireles

Não sei cantar, Cecília, mas sinto também que o instante existe

Tristemente, poeta, minha vida não se completou,

Foram tantas coisas pelas quais lutei e não me vieram

Ficaram tantas coisas pelo caminho, foram tantos esforços em vão

Não me foi dado o prazer de ser alegre, porém, não posso ser triste

Tenho que pesar meu coração e tristeza não faz bem para ele

Sou poeta como você foi

Só não sei se foi uma escolha de alguém que não teve outra no caminho.

Uma pena, pois ser poeta é escolha das musas

E isso sim, eu sei, elas me dominam atualmente

Sim, Cecília, sou seu irmão das coisas fugidias

No entanto, sinto gozo e sinto tormento

O prazer e o sofrimento fazem parte de minha vida

Gosto do vento refrescante na face

Entretanto, não gosto do vento de tempestade e de redemoinho

E gosto de atravessar noites e dias tranquilos

Cecília, sou mesmo assim, desmorono e edifico

Nos parecemos nisso, permaneço e me desfaço

Pois eu sei, eu sei. Fico

E passo, os dois, poeta.

Embora tenha dito não saiba cantar, Cecília, sozinho eu canto, sem ninguém ouvir.

Você tem razão, a canção é mesmo tudo e era assim para minha mãe também

A asa ritmada porta essa eternidade no líquido vital

Poxa, senhora amiga, precisava lembrar de igual forma um dia estarei mudo?

Mais nada?

Você não emudeceu, Cecília.

Acabou de me falar agora

E ouvi suas canções, viu?

Pois a canção não é tudo?

Rodison Roberto Santos

São Paulo, 07 de outubro de 2023

Rodison Roberto Santos
Enviado por Rodison Roberto Santos em 01/09/2024
Código do texto: T8141560
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.