20 primaveras de uma não-existência

Há vinte anos, meu coração soluça,

Por um filho que o tempo não viu florescer,

Meu neguinho amado, de alma tão pura,

Que a vida, cruel, não permitiu viver.

No âmago da alma, desejei ver seu sorriso,

Inteligente, feliz, com brilho no olhar,

As agruras da vida, sem dó nem piedade,

Levou-te de mim e me fez sangrar.

Carrego então, uma saudade que aperta,

Uma ausência que nem o tempo desfaz,

Supero a culpa, mas o vazio desperta,

Quando o devaneio ao Órion me traz.

Vinte primaveras sem nunca te olhar,

Foi apenas um anjo que o vento levou,

Conservo o carinho que não pude te dar,

Para sempre em mim, sua memória ficou.

Hoje, sou forte, mas também sou dor,

Serás sempre o filho que não pude embalar,

Lembro de ti, com ternura e amor,

Alguém que para sempre irei amar.