Todos nascemos com algo de nômade dentro de nós, trazemos escrito em nosso código genético uma vontade de mudar, de ir em busca de algo diferente que nem sempre sabemos o que é, mas somos conscientes disso, uns mais e outros menos, mas todos sabemos que queremos ir.
 

Somos imigrantes de um estado de emoção, ou para aqueles que acreditam na consciência imaterial de nossas existências, somos imigrantes do estado espiritual da alma.
 

Todos os dias nossos corpos querem e precisam ir de um lugar para outro. Ainda que seja um pequeno deslocamento, queremos ir, e quando vamos, e encontramos um lugar mais conectado conosco que aquele de onde viemos, perdemos o desejo de voltar.
 

E no ir e vir da migração de nossos corpos, vivemos experiências de desapego pelas quais passamos em nome do ir.

 

Em nosso interior também desejamos migrar, mas nem sempre sabemos para onde queremos ir, alguns inclusive passam a vida inteira sem descobrir essa verdade tão essencial.

 

Buscamos religiões, grupos de pessoas, conhecimento, igrejas, fé, guias, ciência, sonhos até, tudo em nome dessa mudança que seria aquela evolução espiritual que tanto desejamos.

 

Alguns conseguem encontrar esse lugar de evolução dentro de respostas agregadas ao senso de pertencer, à uma família, à uma comunidade, à um grupo, porém, para outros, essa busca é mais complicada.

 

Juan deixou sua alma, sua essência e sua eternidade migrar para um lugar que ele escolheu como lugar de paz, um lugar onde ele, num certo momento de sua passagem evolutiva por essa terra, sabia que não seria aqui.

 

Sua busca por aquele lugar ideal de onde não sentimos mais vontade de voltar, finalmente se concluiu e ele foi, migrou para o seu lugar de eternidade, onde problemas não existem e não há necessidade de voltar.

 

Sem se despedir, porque talvez precisasse explicar sua grande decisão, e ela era só dele, ele não deixou sua partida se ritualizar pelas despedidas, ele simplesmente foi.

 

Em nós fica o vazio deixado pela existência ainda quase juvenil dele, um vazio dolorido, contudo em rota de conformação, porque era dele e de mais ninguém a decisão de ir, e no processo de ir, não querer se despedir.

Juan viajou para longe de nossas existências mas para próximo de nossas memórias e sentimentos.

 

O adeus que não demos e jamais daremos, um dia se transformará num olá de um caloroso reencontro, mas por enquanto nos resta aguardar, numa ode silenciosa à nossa despedida dele, que nunca aconteceu e nunca acontecerá.

 

Bom lugar de paz, querido Juan.

Para Juan Vanicky
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