Ao meu amigo

Eu, ontem,

ignorei meu amigo,

sequer, olhei para ele.

 

Ele estava disponível,

queria conversar;

eu nem o notei.

 

Fui a alguns lugares,

fiz tantas coisas,

e ele estava junto.

 

Quis me ajudar,

até o fez;

não o reconheci.

 

Tentou me despertar,

chamar-me a atenção;

tudo em vão.

 

Fechei-me em mim,

'ensimesmei-me';

pus-me no centro.

 

Ele persistiu,

não desistiu,

permaneceu comigo.

 

O tempo passou,

veio a tarde;

anoiteceu.

 

Cansado da lida,

deitei-me e dormi;

ele, não.

 

Cuidou de mim

durante meu descanso;

durante meu descaso.

 

Veio um novo dia,

acordei refeito,

renovado.

 

Ele permanecia comigo,

mantinha-se por perto,

do meu lado.

 

Passando junto à janela,

a brisa me tocou;

o sol me aqueceu.

 

Senti o aroma do jardim,

ouvi o canto das aves;

vi crianças brincarem.

 

Ao longe,

árvores batiam palmas;

nuvens passavam...

 

Eis, uma borboleta,

asas bem coloridas,

planou até a janela.

 

Quis me achegar,

estendi-lhe a mão;

tudo em vão.

 

Numa breve pausa,

não resistiu aos ventos,

deixou-se levar.

 

Não mais a vi,

sua leveza foi-se;

juntou-se à paisagem.

 

Meu coração partiu,

entristeceu-se;

eu a queria tocar.

 

Reclamei, quase chorei,

meu amigo ouviu;

ele me entendeu.

 

O mesmo ele sentiu

todo o dia de ontem,

eu era a borboleta.

 

Perdi-me totalmente

na paisagem cotidiana,

fui levado pelos ventos.

 

Misturei-me às vivências,

tornei-me um com tudo;

surdo, cego, mudo.

 

Perdoe-me, meu amigo,

você é mui precioso;

Imprescindível pra mim.