O profeta do Óbvio(Belchior)

As facas contam e cortam o canto

Talvez, o tango argentino esteja demodé no momento

O blues agora lhe cai bem

Cantou o mundo

Se calou também

Ateístas fervorosos por suas causas

Velando sempre o espírito modernista

Desprovinizar a canção brasileira

É também imergi-la nas suas raízes

Despir as cicatrizes

Expor o sangrar

Em busca de ar, saíste do mundo

É complicado a profundidade do inferno de Dante

Ao ler precisamos falar

Todos estão surdos

Velando uma música que nasceu há pouco

E já vai partindo

Sem choro

Sem flores

Só o esquecimento

Credencial dos desimportantes

Mas tú, profeta do óbvio

Poeta imortal

Fos-tes, mas ficou

Seu canto anasalado nos infla os pulmões

Com poesia e anarquia

Seu canto torto me faz sangrar todo dia

É dia de ironia no meu coração

Cortas todas as amarras do tédio

Coloca no altar um gole de cerveja

O beijo de novela

Bem na hora do almoço

Na história só ficam os grandes

Isso não se pode negar

Sei que um dia aconselhou o mundo

Sempre desobedecer

Nunca reverenciar

Mas essa vou desobeder

Pois sempre vou lhe reverenciar

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 12/07/2024
Código do texto: T8105377
Classificação de conteúdo: seguro