O profeta do Óbvio(Belchior)
As facas contam e cortam o canto
Talvez, o tango argentino esteja demodé no momento
O blues agora lhe cai bem
Cantou o mundo
Se calou também
Ateístas fervorosos por suas causas
Velando sempre o espírito modernista
Desprovinizar a canção brasileira
É também imergi-la nas suas raízes
Despir as cicatrizes
Expor o sangrar
Em busca de ar, saíste do mundo
É complicado a profundidade do inferno de Dante
Ao ler precisamos falar
Todos estão surdos
Velando uma música que nasceu há pouco
E já vai partindo
Sem choro
Sem flores
Só o esquecimento
Credencial dos desimportantes
Mas tú, profeta do óbvio
Poeta imortal
Fos-tes, mas ficou
Seu canto anasalado nos infla os pulmões
Com poesia e anarquia
Seu canto torto me faz sangrar todo dia
É dia de ironia no meu coração
Cortas todas as amarras do tédio
Coloca no altar um gole de cerveja
O beijo de novela
Bem na hora do almoço
Na história só ficam os grandes
Isso não se pode negar
Sei que um dia aconselhou o mundo
Sempre desobedecer
Nunca reverenciar
Mas essa vou desobeder
Pois sempre vou lhe reverenciar