Maria do papelão
Às 4h da madrugada ela já está de pé
Liga o rádio e a TV, toma um ca(fé)!
Faz uma prece à Nossa Senhora
Sai ligeira pela rua à fora
Vai puxando seu amigo...
Um improvisado de rodas com abrigo
Onde vai entulhando todo o "lixo"
Morro acima, morro abaixo...
O peso, ela já nem sente...
A fome parece ser um entorpecente
Separa tudo com mãos ligeiras
Não se assusta mais com a sujeira
Vai selecionando por valores
Para entregar tudo a seus senhores
Que determinam preço de cada reciclável
Conquanto a singeleza dela é imutável
Traz na pele estigma da segregação
No peito esconde toda sua aflição
Segura, nunca se sentiu
Mas entende que o mundo lhe é hostil
E quando volta pra casa à tardinha
Sua gente já está muito faminta
Se lavam, e de mãos dadas fazem oração:
- " Obrigado, Deus, por mais um dia e pelo pão!"
Em um barraco improvisado
Dona Maria reparte também o seu bocado
Divide com os irmãos da necessidade
Porque seu coração é a mais pura bondade.
(Dedicado à dona Maria do papelão, minha amiga do coração)