As últimas palavras de um morto
Dedico:
Para os vermes que antes de devorarem meu corpo frio, devoraram a minha alma,
Deixo-lhes a oportunidade de conhecer-me melhor.
De serem intensos como sou,
De submergir das altas ondas, mar salgado, castigo para o paladar outrora adocicado.
Para os vermes que irão devorar-me por inteiro,
Deixo-lhes a potência da minha voz,
Que fala o que pensa, não dar ponto em nós.
Deixo a oportunidade de consumirem minhas córneas,
Para que vejam como vejo, cores vibrantes, movimentos e receios.
Deixe-lhes também a minha mente feita de carne, mas funcional.
Cheia de ideais,
Ações e predisposições para o ato.
Certamente o sabor será sem igual,
Ora porque cada indivíduo leva nas carnes o que aprende do mundo,
Ora porque das vivências se nutre e se sofistica.
Para os vermes que irão devorar-me por inteiro deixo minhas raízes imortais que,
Se construíram no silêncio
E se aprofundaram em solos nunca explorados.