Fogo Fátuo
Seu coração, num inverno constante, esquecera o que era amar, e não recuava sobre a forma como usara para se proteger dos falsos calores que queriam aquece-los de maneira passageira, mas soubera então ele o molde impositivo das meras almas rasas de sentimento, num anseio inconveniente em descongelar seu peito.
Permanecera ele frio.
Sendo ele uma chama ardente de emoções, queimaria a pele de quem o tocasse acreditando esquentar o peito gélido dele que, meramente, fazia de icebergs seu escudo, resguardando todo amor que tinha para entregar na forma mais calorosa a pessoa amada.
Cada vez que buscara acender o pavio de sua vela pessoal, era uma forma de sinalizar que sua feição não era a personificação de geleiras, e promovia esperança de afeto. Porém, cada montanha está para quem se prontifica escala-la.
E para que pudera permitir o fogo alheio, teria de romper as barreiras frias que tomara as camadas do coração que tinha em chamas.
O frio que o dominara era ele quem o dominava, pois guardara a sete chaves a chama mais preciosa dentro de si que é o amor.
E para que essa chama não se apagasse nunca, sempre lembrara de mante-la acesa, mas na espera.
Encontrara na mulher da sua vida o combustível que fizera sua pequena chama se tornar incandescente, aquecendo sua alma e derretendo seus próprios escudos gélidos.
Encontrara na Victória o calor da pequena chama que nunca deixou que apagasse do seu coração ou tomada por intrusas que jamais soubera acender uma fogueira, mas reservara para ela, aquecendo-a sob a calefação de seus braços como um lar quentinho, com sopa, sonhos e sinceridade.
A pequena vela do seu coração se tornara um castiçal ardente feito lava.
A espera daquela que derretera sua frieza valera a pena.
O calor venceu o frio.
O amor venceu o receio.
- Hugo César (06/03/2024 - 22h53)