Música Sagrada

Por trás da janela proibida

Oiço a música dos teus dedos

E espio a serenidade atenta do teu rosto:

O cabelo tão curto a face tão clara

O olhar sério que não me vê

Os lábios doces dos beijos ainda frescos...

E a melodia do órgão ressoa na capela do quarto

E persegue a embriaguez dos meus passos

Que fogem do teu canto de sereia!

E o meu coração está cheio de doçura:

Sinto um amor excessivo e que não compreendo

Porque me és tão preciosa e querida!

És tão linda, Carla B.!

Mereces tanto, muito mais de tudo aquilo

Que algum dia eu te possa dar

Mereces tudo, nada é demais para ti

Porque és incomensuravelmente bela!

E enquanto espiava a tua beleza serena e séria

O reflexo íntimo da tua alegria

Eu desejava que ela nunca se apagasse

E que fosses linda para sempre

E a tua satisfação fosse eterna!

O meu coração reza por ti

A minha alma deseja-te

E eu sinto a falta enorme do teu Amor

E invejo muito aqueles que te amam

Ó muito querida muito querida muito querida!

Há momentos em que és excessivamente querida

Incompreensivelmente querida

Deusa sagrada Anjo intocável

Demasiado luminosa e brilhante

E eu tenho medo hesito

Sinto um receio oculto e primitivo

E fujo do redemoinho do teu amor.

E agora sempre que passar à tua porta

Eu recordarei essa melodia

E verei de novo o teu rosto concentrado e calmo

E beijarei em pensamento os dedos esguios e alvos

Que aprenderam música e carícias.

Quem me dera reviver esses instantes sagrados

Sentir-me de novo possuído pelo respeito reverente

Com que te contemplava absorto e triste

Por não te conhecer ainda nem compreender

As nuances invisíveis da tua alma mais secreta!

Por detrás da janela dos teus olhos

Oiço a música no movimento dos teus lábios

E espio a linguagem inconsciente do teu rosto:

Quão feliz és, quanto me amas

E que conheces verdadeiramente do Amor?

E a melodia do teu sorriso

Ecoa no santuário dos meus pensamentos

E os meus passos conduzem-me para ti

Ó protetora dos apaixonados órfãos!

E o meu coração transborda de ternura

A minha alma rebenta de gratidão:

Sinto um amor excessivo, demasiado, perigoso

E ainda não compreendo, ó Carla,

Porque me és tão preciosa, querida e necessária!

Sª Mª Feira, 19-06-1992

Rui leprechaun
Enviado por Rui leprechaun em 08/10/2023
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