Soneto ao Conde de Monsaraz

E escuto à noite, na Voz do Universo,

cálido, certeiro, feito de Estrelas,

uma Voz que ecoa, deixando-me imerso,

num manto doce de tímidas procellas:

"... há uma Paz infinita na solidão das herdades,

ó Alma das coisas mortas,

eu sinto que me confortas,

nos campos, quando me invades ..." *

E há um silêncio sinistro e misterioso

que me escorre a Alma num pálido sentir,

ora doce ora amargo, ora alegre ou doloroso ...

E sinto em mim, às vezes, vacilante e audaz,

essa voz Eterna, doce, a sorrir,

do Conde de Monsaraz ...

Tens em minha Casa um lugar onde podes pernoitar sempre que venhas.

Tens em meus braços um ninho de amizade que te espera.

Tens em minha Alma outra Alma que sempre esperará a tua Alma ...

de Ricardo Maria para Macedo Papança

*Quadra de António de Macedo Papança, Conde de Monsaraz. IN Musa Alentjana - 1908