Regicídio

Numa intensa tristeza, lamento profundo,

no silêncio das Almas, quente e perturbante,

ecoa ao longe, no Palácio da Pena, uma voz distante,

um grito de dor que abrange todo o Mundo …

Vai morto El-Rei a passar! E num eterno segundo,

seu filho, também. Atrás, D. Amélia, palpitante,

de véu negro sobre o rosto, num silencio cortante!...

Piedosa Senhora que leva cravado um punhal tão fundo!

Quão triste e penosa, quão amarga a vossa sorte!

Que até o Mar reza calado, orações de morte,

em severas toadas de límpido cristal …

Ó Senhora tão sozinha, perdoai esta gente fria,

que ao matar aquelas vidas não via que vos feria …

Que agora, a Pátria d’El-Rei, será o Céu de Portugal!

(Ao Regicidio de El Rei D. Carlos e do Principe D.Luis.

Ao Sofrimento da Rainha D. Amélia.

1 de Fevereiro de 1910. Lisboa. )