Quinta do Malhão

Saudade, triste saudade,

me ficou no coração

daqueles campos sem vaidade

da Quinta do Malhão ...

Nogueiras, altas Nogueiras,

se erguiam naquelas terras

campos longos de laranjeiras

povoados de tristes pedras!

Ai saudade, triste saudade,

do cheiro a terra lavrada,

da sua infinita bondade

ficou minh'Alma marcada.

Recordo ainda aquela Nora

e seu triste Coração,

os alcatruzes eram fora

chorava a Quinta do Malhão ...

Tanta sombra, tanta Paz,

tantos sonhos e fantasias ...

Quando eu era rapaz

tinha a Alma cheia de Poesias!

E na terra macia

adormecia no chão,

voa, voa Poesia,

sonha, sonha Coração,

era assim que eu vivia

na Quinta do Malhão!

E os primeiros Amores

que minh'Alma encerra

nasceram como as flores

na memória daquela terra ...

Cada canto mos recorda,

cada tronco, a minha infância,

mas sinto ainda uma corda:

apesar já da distância,

passa sempre e morre um beijo

nesta memória em cadência ...

E das Nogueiras, folhas secas,

folhas secas, folhas mortas ...

No chão caidas, que m'importa

se secas estão as folhas mortas!

Nogueiras, altas Nogueiras,

Laranjeiras e Figueiras

que em criança me vistes,

já não podes agitar as altas franças,

guardai então os sonhos tristes

desta triste criança ...