BOROCOXÔ MA NON TROPPO

Arrastando sem pressa ma non troppo

As cansadas e velhas pernas

No velho chão bem conhecido e poeirento

Respirando devagar o ar seco e sem brisa

Assim vai o velho sertanejo borocoxô

Borocoxô ma non troppo

Cabeça baixa e olhos firmes no chão pisado

Carregando nos ombros já arcados

Arcados ma non troppo

A longa história de toda vida

Uma epopeia desconhecida

Sua sina até seria obra de arte grande

Como tantas outras grandes narrativas

Se não estivesse ele bem no meio

Do imenso vazio do agreste

Vazio ma non troppo

Vendo e vivendo agruras sertanejas

Esperando as chuvas sempre esperadas

Esperando o brotar das sementes

Esperanças sempre plantadas

Rezando a São José e a São João

Em roda das fogueiras que lançam faíscas

Debaixo do céu das muitas estrelas que brilham

Muito mais que na cidade grande

Com sua infinidade mensurável de luzes postiças

A embaçar o infinito céu estrelado

Essa imensidão diamantina do céu estrelado

Das noites sertanejas apenas testemunha

A sabedoria das palavras euclidianas:

 

O sertanejo é, antes de tudo, um forte.