Coração
Eu vou dizer-te porque é que gosto de ti.
Gosto de ti porque tu não consegues
Esconder o teu coração,
É por isso que eu gosto de ti
E comporto-me como um apaixonado.
O teu coração é doce
E um coração doce nunca vai poder fechar-se;
O teu coração é meigo
E um coração meigo nunca vai poder fechar-se;
O teu coração é terno
E um coração terno nunca vai poder fechar-se;
O teu coração és TU
E Tu nunca vais poder escondê-lo
E eu amo o teu coração.
Tu és incomparavelmente bela,
Foste criada inexcedivelmente bela
E eu tenho que te amar,
Tenho que me deliciar contigo.
Eu é que não fui criado assim tão bom
E o meu coração é tão vazio!
Olho para ele e não vejo quase nada,
Só um pálido reflexo de já nem sei o quê.
Antigamente eu imaginava que ele era um templo,
E nesse templo havia um altar
E sobre o altar um sacrário
E dentro do sacrário uma luz,
Uma luzinha ténue, pálida e brilhante,
E era isso o meu coração.
Antigamente.
E eu invejo-te porque tu tens um coração doce,
Doce como eu gostaria de ter e não tenho,
E se calhar já nunca mais terei,
Porque tu não me vais dar o teu coração, pois não?
Eu nunca vou ter esse coração,
E o que tenho não o quero.
Já não tem mais nada para me dar,
Já nem sequer tem muitos mais dias para bater,
Porque não tem nada pelo qual possa bater,
Exceto TU, é claro.
TU
A menina do coração doce,
Que eu sei que é doce.
E doce ou azedo, nem importa.
TU
Menina e Deusa,
O encanto de Tu,
A irresistível sedução de Tu!
TU
Tantas vezes Tu dentro de mim.
E mesmo o meu coração vazio e pobre
É só isso o que ele sabe dizer,
É só isso que ele consegue murmurar,
roucamente,
timidamente,
constantemente,
TU – TU – TU...
Sª Mª Feira, 21-06-1986