Vovó Benvinda
Quando nasci
já estava na casa dos sessenta
Brava, exigente,
ativa, criativa, amorosa,
Em sua casa acolhia toda gente
Muitos netos passaram pelo casarão
que ficava abaixo da linha do trem,
à Rua São Salvador
Não renegava ninguém:
Ilda, Neusa, Wilson, Margo, Pedrão
ali receberam parte de sua formação
dela levaram uns bons beliscões
E também outros netos , amigos, parentes
Que vinham de outras regiões
Todos eram bem-vindos
na casa da Dona Benvinda
Me lembro ainda
dela às cinco da matina
na cozinha acendendo o fogão
a lenha demorava pra crepitar
o jeito era levantar
com o dia ainda escuro
os gatos espiavam-na no muro
pedindo-lhe atenção
Lá fora só o sussuro do dia
e dos pássaros também já de pé
nos galhos do pessegueiro
da mangueira, do pé de limão
Após fazer o café
Socado pelo Vovô Francisco no Pilão
Torrado no velho fogão da casinha
Moído no moinho de ferro fundido
Punha a mesa como se fosse o rei receber
Não era só o café com leite e pão
Tinha sequilho de araruta
Do quintal muitas frutas
Manteiga, bolo, mingau de fubá e requeijão
Todos batidos à mão
Quando nós levantávamos
Não queria confusão
À mesa o silêncio e a oração
Depois corria pra velha pia
E começava a picação
Picava tomate cebola
Picava salsa, cebolinha, almeirão
Colhidos ainda orvalhados
Na horta do casarão
Batia os bifes ,
descascava batatas
Escolhia o arroz e o feijão
Ao meio dia em ponto
O almoço estava pronto
Não queria reclamação
Mulher de muitas batalhas
Perdas e separação
Tenho absoluta certeza
Que pra comemorar este dia
hoje haverá festa nos céus
Com toda sua família
filhos, netos, genros e noras
com Jesus e Nossa Senhora
anjos e santos de devoção .
Benvinda Palma