Cena sem Bilheteria
(Para José Celso Martinez Corrêa)
O boneco feio caiu,
caiu a marionete,
caiu a nossa história no palco.
Hoje não fazemos de conta.
Rasgou-se a rede,
lavaram-se os olhos;
Fazemos de verdade,
porque eles os são:
os fatos inéditos, a sede inédita,
o acontecer da vida nossa.
O palhaço mais alegre do mundo
não tem bilheteria pro seu choro.
Palco vazio, estudante só paga meia
e mulher gravida não paga,
pra que os filhos nasçam cultos
e copiem...
Gente depravada!
Gente inocente também,
que vai cega e corta nossas asas.
Ficam os fios orgânicos,
presos a organismos tarados.
Lava-se agora a casa,
põem-se flores
- a azia dramatúrgica é curada,
elixir das boas finanças, comodidade,
a memória que não temos.
Fantoches despenteados,
homens grandes e pequenos se medindo...
Na confusão, um buraco pra espiar,
ninguém com interesse.
Cena sem bilheteria.