Feminilidade

Reprimir minha feminilidade

é matar a herança materna que habita em mim,

negar a história de mulheres

pretas escravizadas e brancas exiladas

que resistiram a genocídios

para gerar minha existência.

Cultivo meu feminino

para que aflore em afeto e doçura.

Pratico sua coragem

em prol da resiliência.

Encaro seus medos

para que não fraqueje a resistência.

Choro a sensibilidade da lágrima

para erodir a aspereza dos obstáculos.

Distribuo amor

para repelir o ódio cotidiano.

Neste mundo tão machista

exibir minha metade feminina

é honrar a ancestralidade que forjou

o pai que me tornei

e o pai que formarei.

É abrir mão de ser macho

para ser homem.

É compreender a força de um milagre

que concede ao mundo

seu fruto divino,

alimentando o ciclo da vida.

Encontrar meu feminino

é evoluir como ser

e promover um mundo mais justo

e igualitário

na incessante expectativa

do vir a ser

completude.