Maninho
Talvez um dia você nos encontre neste texto simples
Perdidos entre tantas memórias
De tempos difíceis, tempos de crise
Geladeira vazia, sem bolo de aniversário
Medo de sermos despejados
Noites escuras, vida fantasma
Penumbra profunda no mais íntimo ser
E que mesmo assim, sonhava em vencer
Vencer a desigualdade
Resistir a tanta maldade
Conquistar a liberdade
Carta de alforria da atualidade
Porém, a mudança leva tempo, afinal
Não tenho casa, mas tenho cimento...
Eu abracei os livros, meus sinceros amigos
Que eu sempre quis ter
Conselheiros eternos
Tão sábios, tão espertos
Com vozes que ecoam
Naquele que pousa o olhar a divagar
Como quem pedala de bicicleta para não poder cair
Pedalando seguimos
E seguiremos assim
Acreditando num futuro melhor pra gente
Um mundo lindo e diferente
Florido feito a primavera
E suas flores de aquarela
Longe dos olhos e das mentes que mentem
Longe de tudo o que nos faz mal
Ainda me lembro
De quando chegava em casa
Seus brinquedos já não estavam lá
Vendidos antes mesmo de brincar
Como doía não poder mudar...
Ainda me lembro
Lembro daquele tempo
De quando a noite caía
E você saía batendo de porta em porta
Ao lado da mãe que te usava para amolecer os corações
E ganhar alguns tostões
Eu só queria gritar e pedir para parar
Chega de se humilhar!
Eu me sentia impotente
Sonhando tão alto
Querendo brilhar
Sem conseguir nos salvar
Tomei a responsabilidade de nos sustentar
Com os 400 e poucos da bolsa da faculdade
Sobreviver era a nossa arte
Desbotada para descarte
Ainda assim me sentia privilegiada
Por ter um teto onde morar
Mesmo que toda a "família" quisesse nos expulsar
Eu sabia que estava perto de sairmos dali
Faltam só dois anos para eu conseguir ir
Vou decolar
Vou atravessar o oceano Atlântico
E logo.. logo venho te buscar
Eu prometo que de ti sempre vou cuidar
Meu maninho, minha luz, meu Lohan
Eu te amo com todo meu amor.