COM O AMOR DE CADA MANHÃ


Aquela cadeira vazia,
No canto da sala,
Sem serventia,
Onde o nada a embala,
De fora a fora,
Já foi útil outrora,
Pertencia a uma digna senhora,
Seu nome? Maria,
Mas, todos a chamavam,
De vovó dindinha,
Quando a conheci,
Era bem idosa,
Bastante enferma,
Mas, cheia de prosa,
Uma gracinha!
Quase não andava,
Na fiel cadeira se acomodava,
Sempre que eu podia,
Fazia-lhe companhia,
O seu olhar brilhava,
Ela me abraçava,
Contava-me muitas histórias,
Que me levavam à glória,
Que esplendorosa gana!
Força que emana,
com uma preciosa fé,
Do coração de uma mulher,
De maneira espetacular,
Concretizou o verbo amar,
Casou-se,
Filhos, não pôde ter,
Dedicou-se,
Com imenso querer,
Com a graça de Deus,
Aos filhos que não eram seus,
Nove irmãos do mesmo clã,
Criados com cuidado,
Com o amor de cada manhã,
Todos encaminhados,
Nenhum ficou sem guarida,
E ela; já quase sem vida,
Sorria agradecida,
Com o tudo consumado,
Cadeira vazia –hoje empoeirada,
Já foi trono de uma rainha – sonho dourado,
Não morreu – apenas foi transportada,
Pelos anjos para o outro lado.