MINHA AVÓ MARIA

Nada saia do contexto

Era assim toda manhã

Ajoelhada, rezava o terço

Assim se sentia cristã

Comia pouco, evitavando a gula

E sorria da própria pobreza

Pouco lhe importando a agrura

E toda aquela dureza

Como quem nada entendia

Vivia a vida que lhe restava

Mas no rosto ainda trazia

A herança de ser Maria

Mais uma que ainda lutava

Saía à rua olhando a gente

E por vezes resmungava

- Meninas bobas! Homens de fralda!

Era assim que reclamava

E aos poucos vindo à mente

Os dias de outrora beleza

A fazenda e o cavalo Valente

Que montava com toda destreza

A festa que na noite entrava

Os risos e gargalhadas

Os rapazes e as montarias

A comida que não findava

Mas hoje, nessa cidade fria

Rodeada de coisas vazias

Sentindo os dias que restava

Teve a certeza marcada

Como ferro quente, em brasa

Que a velhice é como a pimenta

Aos poucos delicía a comida

E em muito ninguém aguenta

Luciano PSilva
Enviado por Luciano PSilva em 14/08/2021
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