MINHA AVÓ MARIA
Nada saia do contexto
Era assim toda manhã
Ajoelhada, rezava o terço
Assim se sentia cristã
Comia pouco, evitavando a gula
E sorria da própria pobreza
Pouco lhe importando a agrura
E toda aquela dureza
Como quem nada entendia
Vivia a vida que lhe restava
Mas no rosto ainda trazia
A herança de ser Maria
Mais uma que ainda lutava
Saía à rua olhando a gente
E por vezes resmungava
- Meninas bobas! Homens de fralda!
Era assim que reclamava
E aos poucos vindo à mente
Os dias de outrora beleza
A fazenda e o cavalo Valente
Que montava com toda destreza
A festa que na noite entrava
Os risos e gargalhadas
Os rapazes e as montarias
A comida que não findava
Mas hoje, nessa cidade fria
Rodeada de coisas vazias
Sentindo os dias que restava
Teve a certeza marcada
Como ferro quente, em brasa
Que a velhice é como a pimenta
Aos poucos delicía a comida
E em muito ninguém aguenta