A Menina Aquarela
Ajudaria, uma alma amarela girassol,
Em uma noite sem sol,
Que pairava sob as nuvens,
Cotovelos aparatos sobre a janela,
De uma lua singela,
Bufava a menina aquarela.
Perguntando fielmente ao Deus,
Porque não estava aos seus,
Teria que ver os céus,
Mas não dormiria outra noite?
Por uma alma iluminada,
Que até a lua enciumada,
Ofuscava-se entre as nuvens,
E tu vens.
Sob a janela e a sacada,
Ficava a menina, encantada,
Mexia os pés como num balanço,
Num jogo de alcanço.
Até, nos vidros embaçados,
Aparecer endiabrados,
Uma pessoa que também não dormira,
E para ela, reagia.
Alguém, que não recebera em sorrisos,
Mas com o levantar da sobrancelha,
Nem aos chãos,
Nem nas telhas.
Somente um olá, a fazia indagar,
Poderia essa pessoa me machucar?
Mas, o coração samaritano a corava,
A encorajava,
O cumprimentara.
Eram duas pessoas,
Agora, conhecidos,
Que buscaram sossego,
Cor de pêssego,
Foi o que pensara,
Da mão que na sacada tocava.
Um Corvo Cerúleo,
Uma menina aquarela,
Ambos de gestos tagarelas,
Que tomavam sorvete ou açaí em tigelas.
Os olhares tocavam,
Como se conhecessem de amizades longínquas,
E já riam bestas,
Em noites frias.
Amigos, de tão pouco tempo,
Nesse mundo jovem,
Onde o tempo não é tempo,
E que sonhos morrem.
Numa crueldade humana,
Singularidade mundana,
Em meio doenças e pandemias,
Riram, divertiam.
Num pulo de sacada,
Trouxe a menina de pijamas,
Pelas ruas nebulosas,
De uma avenida de grade esmeralda.
Ambos andavam,
Como últimos existentes,
Mas caminhavam,
Perplexos e contentes.
Calçadas como linhas de trem,
Seguindo rumo a cidade fantasma,
Passeando e conversando,
Com nada importando.
Conversa vem,
Conversa vai,
A amizade convém,
Nada a mais.
Eram conscientes,
Que a amizade calorosa,
Não abrangia vida amorosa,
Amigos e amigos,
Inimigos de inimigos.
Amizade, simbolizada na fofoca,
Não poderia falar algo novo,
Que o anseio vinha à tona,
Amizade cafona.
A menina aquarela,
Não sabia que salvou o corvo naquele dia,
Nem saberia, o quanto gostaria,
Dessa amizade tagarela.
Ele a chama, num assobio,
Logo, rio,
Eram amigos, descentes,
Idiotas sorridentes.
Ela, em seus pijamas amarelos,
Ele em seu casaco não amarelo,
Pois o único sol em sua vida,
Era o sol negro.
Mas, nada impedia,
Que os devotos fossem amigos,
Daqueles que poderiam ser inimigos,
Ela não vivia a ironia.
Surpreendam, humanos,
Amigos e diferentes,
Como água e vinho,
Mais para vinagre.
A menina aquarela,
Sorridente e tagarela,
Salvava vidas e nem sequer era heroína,
Existir, já era remédio ao tédio.
Colocou o Corvo em xeque,
Muitas vezes instigado a pensar,
Sobre a vida, sobre voar,
Sobre também tagarelar.
Muitas vezes, moveu as areias do destino,
Sob seu hino silencioso,
De uma arte do barroso,
Com seus espinhos,
Com seus caroços.
A menina aquarela,
Que ama a cor amarela,
Tem tons e tonalidades,
Que lhe dizem muitas verdades.
As noites,
Os questionamentos,
Os açoites,
Os juramentos.
A menina aquarela,
Que ama sem saber amar,
Procura fatos a se agarrar,
Sonhos a se conquistar.
Sendo escravos,
Somos todos acorrentados,
A verdades ou suposições,
Mas, faz valer vidas,
Faz valer ações.
Dos almoços e brincadeiras,
Das comilanças e das besteiras,
As conversas, dúvidas de viver,
Sempre preciosos para aprender.
O apreço,
Não tem preço,
A menina aquarela,
Vive carinhosamente em minha alma.
Todos os corvos,
Desse mundo destronado,
Agradecem,
Por não desistir de instigar,
O pássaro da morte a viver.
Obrigado,
Sou grato,
Pelo seu amarelo,
Na minha vida.