Os sapatos de minha irmã
Já subiram ladeiras
Desceram morros
Andaram em ruas limpas
Em estradas de terra
Em bairros endinheirados
Em lugares baldios
Em tapetes vaidosos
Em chãos batidos
Correram atrás de sonhos
Voltaram cabisbaixos
Foram caminhar
Na labuta ficaram cansados
No descanso, pra cima
Pegaram ônibus
Coçaram, às vezes.
Machucaram o calcanhar
De quem os possuía
Atenuaram as pisadas.
Hoje se relegam a uma sapateira
São uma lembrança.
Uma referência à sua dona
Que hoje já não os usa.
Não precisa mais
No céu, onde está,
O chão é de algodão doce.
Para Nelimar, 06/03/1969 - ♰ 26/11/2016