Os sapatos de minha irmã

Já subiram ladeiras

Desceram morros

Andaram em ruas limpas

Em estradas de terra

Em bairros endinheirados

Em lugares baldios

Em tapetes vaidosos

Em chãos batidos

Correram atrás de sonhos

Voltaram cabisbaixos

Foram caminhar

Na labuta ficaram cansados

No descanso, pra cima

Pegaram ônibus

Coçaram, às vezes.

Machucaram o calcanhar

De quem os possuía

Atenuaram as pisadas.

Hoje se relegam a uma sapateira

São uma lembrança.

Uma referência à sua dona

Que hoje já não os usa.

Não precisa mais

No céu, onde está,

O chão é de algodão doce.

Para Nelimar, 06/03/1969 - ♰ 26/11/2016

Neilton Domingues
Enviado por Neilton Domingues em 18/06/2021
Código do texto: T7281665
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